A munição recarregada não é rastreável? - Recarga Club

Contrariando o mito de que a munição recarregada não é rastreável, a tecnologia atual e a expertise de profissionais e peritos na área de balística forense possibilitam o rastreamento desse tipo de munição. Essa afirmação incorreta tem sido frequentemente usada como argumento para proibir a prática da recarga.

Através de análises balísticas apropriadas realizadas por especialistas experientes, a munição recarregada pode ser efetivamente rastreada, contribuindo para a resolução de casos criminais e garantindo a manutenção da segurança pública. Algumas técnicas empregadas nesse processo incluem:

Análise microscópica das espoletas recarregadas

O processo de recarga inclui a substituição das espoletas por novas. A análise microscópica das marcas geradas pelo percussor da arma de fogo ao acionar a espoleta apresenta características singulares, similares às impressões digitais, que correspondem especificamente à arma utilizada.

Nesse contexto, a técnica da comparação microscópica é empregada, permitindo verificar se as marcas deixadas pelo percussor da arma – suspeita de ter sido utilizada no crime – coincidem com as marcações do estojo encontrado na cena do delito.

Além disso, peritos podem identificar traços de produtos químicos e resíduos específicos, tanto na espoleta quanto na carga propelente, os quais podem indicar a técnica e os componentes empregados no processo de recarga. A análise desses traços auxilia na identificação do responsável pela recarga e estabelece conexões entre distintos eventos criminosos.

Portanto, a análise microscópica das espoletas recarregadas é uma abordagem eficaz, técnica e didática durante a investigação forense, facilitando a identificação e rastreamento da arma usada, do responsável pela recarga e estabelecendo conexões entre diferentes crimes.

Análise topográfica dos projéteis recarregados

A análise topográfica dos projéteis é fundamental para identificar e rastrear munições recarregadas em investigações criminais. Este exame envolve a análise das marcas microscópicas e nuances presentes no projétil após o disparo, resultantes do contato com as ranhuras e campos do cano da arma.

Cada arma possui marcas de estriamento exclusivas, decorrentes das características individuais do cano, como padrão de ranhuras, disposição e direção do estriamento. Essas singularidades são originadas pelas ferramentas de fabricação e pelo desgaste natural. A análise topográfica, também referida como análise de estriamento, permite aos peritos forenses comparar as marcas de estriamento do projétil recarregado em questão com informações contidas em bancos de dados especializados, como o Sistema Integrado de Identificação Balística (IBIS).

Ao empregar microscópios comparativos e sistemas de análise de imagem acoplados a softwares específicos, os peritos conseguem examinar detalhadamente as impressões de estriamento, aumentando a precisão na identificação da arma que efetuou o disparo do projétil recarregado. Adicionalmente, características particulares do projétil recarregado, como peso, composição, formato e possíveis imperfeições, podem ser estudadas e comparadas com outros projéteis de casos similares ou relacionados, estabelecendo padrões ou conexões que auxiliam na elucidação da origem da munição.

Análise química e metalográfica

A análise química e metalográfica é um método complementar importante no rastreamento de munição recarregada, com implicações significativas no processo investigativo. Essas análises envolvem identificar e quantificar elementos químicos presentes nos materiais dos componentes recarregados, como projéteis e espoletas, além de avaliar suas propriedades metalúrgicas. De forma mais técnica, os especialistas analisam aspectos como a presença de produtos químicos exclusivos, concentração dos elementos e estrutura cristalina dos materiais.

As informações obtidas dessas análises são extremamente úteis para identificar quem realizou a recarga e determinar a origem dos materiais. Também é possível aplicar a análise química e metalográfica a vestígios relacionados ao suspeito de cometer o crime, como resíduos de disparo em mãos, roupas ou ferramentas usadas no processo de recarga. Esses vestígios podem fornecer evidências adicionais, correlacionando o suspeito à munição recarregada e auxiliando na resolução do caso.

Treinamento e especialização em balística forense

O Brasil vem se consolidando como referência no campo da balística forense, resultado da capacitação e especialização contínua de seus peritos criminais. Esses profissionais são treinados e preparados para enfrentar os desafios crescentes associados à análise e identificação de diferentes tipos de munições em investigações criminais.

A fim de garantir a excelência e qualidade do trabalho desses peritos, os entes federativos investem em programas de treinamento e atualização profissional. Esses programas abordam tanto aspectos teóricos quanto práticos e são oferecidos pelos Institutos de Criminalística em todo o território nacional.

Esses esforços têm resultado em maior eficiência na identificação e rastreamento de munições em geral e na capacidade de colaboração com outros países em investigações transnacionais envolvendo armas de fogo e munições. O pioneirismo do Brasil na capacitação de balística forense contribuiu para a consolidação de sua posição como líder global no setor.

Conclusão

A munição recarregada é plenamente rastreável com a tecnologia disponível atualmente, graças às técnicas avançadas e ao conhecimento especializado em balística forense. Afirmar que a proibição da recarga de munições é justificada pela impossibilidade de rastreamento demonstra desconhecimento da capacidade investigativa das polícias e laboratórios forenses do Brasil. Estes profissionais estão constantemente aprimorando suas habilidades e técnicas, e mantêm-se entre os melhores no campo da balística e das ciências forenses. Portanto, o argumento de que a munição recarregada não é rastreável não é válido, uma vez que a combinação de tecnologia, formação e cooperação entre profissionais do setor torna o rastreamento de munição recarregada possível e eficaz na resolução de casos criminais.

Autor: Diogo Machado.

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